segunda-feira, março 22, 2010
Entrevista: Paulo Rangel acredita na vitória de Wagner no 1º turno.
O deputado Paulo Rangel foi reconduzido à liderança do PT na Assembléia Legislativa da Bahia, fato do qual se orgulha, já que segundo ele próprio, só ocorreu anteriormente, com o deputado Paulo Jackson. A comparação pareceu pretensiosa para alguns, mas para Rangel é motivo de orgulho e resultado de muito trabalho e dedicação. Em entrevista ao Além da Notícia o deputado apresenta seus motivos para não apoiar a coligação entre PT e PR, fato que o colocou sob os holofotes da imprensa nas últimas semanas. O petista também esclarece porque, ao contrário do Carlista César Borges, o conselheiro Otto Alencar pode ser visto como aliado. Em se tratando das alianças de sua legenda, Rangel também trata da mais recente delas, o deputado federal Fernando de Fabinho. Sobre o fato dispara: “Acho que o DEM está se Demsmelinguindo”. Paulo Rangel tratou ainda de outras questões polêmicas que envolvem sua bancada na AL-BA, como a instalação da CPI do Metrô, à qual é desfavorável. Confira a íntegra do bate-papo que o deputado teve com a jornalista Georgia Cedraz.
AL: Nos bastidores do PT, o presidente Jonas Paulo está sendo acusado de leiloar o partido, com a possibilidade da formação de um chapão para que o PT feche apoio com mais 4 partidos para se juntar aos seis já existentes, no vale tudo para reeleger Jaques Wagner. O senhor concorda?
PR: O Jonas Paulo é uma pessoa séria, muito competente. Não acredito que ele fosse capaz de fazer qualquer tipo de leilão. Até o momento, na verdade, nós não temos nenhum acúmulo. Eu diria que essa discussão, inclusive, não foi feita, ainda, da forma como deveria ser. Agora, eu tenho certeza que, determinado tipo de aliança pode impactar negativamente a vida do partido, principalmente, junto àqueles eleitores que nós entendemos como formadores de opinião.
AL: Aliança política tem sido um assunto delicado e recorrente nos últimos meses, em se tratando do Governo estadual. Afinal, Jaques Wagner tem costurado alianças que lhe desagradam. Como está sua relação com o governador?
PR: Minha relação com o governador é excelente. Wagner é uma pessoa bastante democrática. Uma pessoa aberta. Em nenhum momento o governador chamou a bancada para discutir esse processo. Diria que, se existe essa articulação, o Governo tem encarado com naturalidade. Tenho feito algumas críticas a uma possível aliança com alguns agentes políticos, à exemplo do ex-governador César Borges.
AL: O deputado estadual Zé Neto declarou em plenário, que os possíveis aliados Otto Alencar e César Borges, ex-pefelistas, serão bem vindos na base governista. Afinal se estão se aproximando, “estão se regenerando”. O senhor concorda?
PR: Existe a possibilidade de se reciclar. Eu não usaria o termo regeneração Diria que dentro do Partido dos Trabalhadores a candidatura de Otto é vista hoje, com muita naturalidade. Isso já não se dá em relação a César Borges. Eu o vejo, inclusive, como uma pessoa de posicionamento mais conservador, que trabalhou o Carlismo à exaustão, inclusive, a partir da aplicação de alguns métodos que deveriam ser banidos da vida política e pública deste país. Uma chapa com dois senadores ligados a forças que há muito tempo governaram a Bahia deixaria muito a desejar junto ao eleitorado que vê a política como uma forma de se buscar construir uma sociedade realmente diferente. Otto Alencar está definido, agora eu sinto que há um descontentamento muito forte na base do partido e junto a alguns deputados de vir a contemplar César Borges na chapa.
AL: Em entrevista ao jornal da Metrópole o senhor afirmou que a entrada de Otto Alencar na chapa petista é “um posicionamento político correto”. No entanto, a aderência de César Borges despolitizaria o PT. Qual a diferença entre os possíveis aliados, visto que toda a oposição reconhece ambos como “Carlistas” inveterados, à exemplo do Democrata Carlos Gaban?
PR: Existe [entre Otto Alencar e César Borges] uma diferença comportamental em relação ao nosso Governo. O Otto é aliado de primeira hora. Desde o momento que nós assumimos, ele se dispôs a ajudar o Governo. Ao contrário de César Borges que foi para o PR, inclusive, no sentido de obstaculizar qualquer aproximação do PR com o Partido dos Trabalhadores. Eu continuo vendo o senador César Borges como um adversário político. Então, não posso conceber que simplesmente uma mobilização eleitoreira, venha ser o definidor da participação do Otto Alencar numa chapa. E eu pergunto: até o momento, qual a movimentação positiva feita por César Borges em relação ao Governo Wagner? Nada. Foi uma pessoa que está vendo a banda passar, as bandas passarem, digamos assim. Não se define se ele vai para o PMDB. Não se define se ele vai para o DEM. Não se define se vai ficar conosco, e eu acho que esse tempo já passou. Agora, quanto a visão do deputado Gaban, e de outros, acho que o DEM está se Demsmelinguindo e fragilizado. Vejo essa tentativa de comparação um comportamento desesperado. Acredito que a eleição aqui na Bahia vai se definir ainda no primeiro turno, com a vitória do governador Jaques Wagner.
AL: O senhor também afirmou em entrevista ao jornal da Metrópole que está trabalhando para que a aliança com Otto e César não ocorra. O que tem sido feito efetivamente para evitar essa coligação?
PR: Primeiro eu quero colocar que não estou fazendo nenhum tipo de motim. Sou uma pessoa até muito disciplinada. Agora essa aliança traz um prejuízo eleitoral ao Partido dos Trabalhadores bastante significativo. Nada contra os que aderiram ao Governo, mas, tenho colocado que com essa aliança que está sendo proposta, vamos eleger e aderir uma maioria de adesistas e ainda vamos eleger três oposicionistas. Então, não sei, inclusive como a sociedade vai estar vendo isso. Teremos numa mesma chapa, numa mesma coligação, pessoas que pensam de forma totalmente diferente. Nesta Casa, inclusive, eu diria que [teríamos] adversários bastante firmes, bastante pragmáticos, como os deputados Elmar Nascimento, Sandro Régis e a esposa do prefeito Tarcízio Pimenta, que também será candidata a deputada. O Partido dos Trabalhadores tem que ampliar sua representação aqui na Casa.
AL: “Fernando de Fabinho vem somar, fortalecer o grupo na caminhada pela nossa reeleição”. Esta frase é do governador Jaques Wagner após fechar mais uma aliança, dessa vez, com o deputado federal Fernando de Fabinho. O que o senhor achou dessa aproximação?
PR: O Fernando de Fabinho está se colocando como apoio. Pelo que sei não está fazendo, nenhum tipo de exigência. Vejo isso como algo natural. Agora, eu começo perceber, e acho que a sociedade baiana também, que o Carlismo não era tão forte como nós pensávamos. Eu não acreditava que o Carlismo viesse a morrer tão rapidamente como morreu. Atribuo muito isso, inclusive, à personalidade do [ACM] Neto, que fez uma campanha para prefeito escondendo o avô.
Além da Notícia: Quais os maiores desafios à frente da liderança petista na Assembléia Legislativa da Bahia?
Paulo Rangel: O maior desafio é fazer com que as votações aqui na Casa, principalmente os projetos vindos do Executivo sejam votados de forma rápida, articulando a bancada, muitas vezes, inclusive, conversando com adversários do Governo, algo que é natural na nossa intervenção.
AL: Ao ser reconduzido à liderança do PT o senhor se comparou ao deputado Paulo Jackson, considerado um dos mais atuantes da Assembléia Legislativa. No entanto, isso ocorreu em situações distintas, já que especula-se que a escolha do seu nome para a recondução da liderança só ocorreu porque nenhum outro deputado quis o cargo, por ser este um ano eleitoral e cheio de compromissos. Isso procede? Não houve com quem concorrer?
PR: Não foi isso. O PT tem a cultura do rodízio. Para lhe falar a verdade eu fui surpreendido com essas duas reconduções. Para se ter uma idéia, no Congresso Nacional nunca houve [essa recondução], nem no Senado ou na Câmara dos Deputados. Também desconheço essa situação em outro Estado. Não houve disputa. Mas, alguns deputados chegaram a colocar que, se eu não quisesse, eles pretenderiam ocupar esse cargo.
AL: Uma grande responsabilidade, concorda?
PR: Apesar de estar no segundo mandato de deputado, conheço muito o partido. Fui fundador da legenda, passei por várias executivas, diretório e fui coordenador de campanhas. Acho que essa recondução tem a ver com o acúmulo, com o perfil desejado pela bancada.
AL: Qual a perspectiva para as eleições? Como está o trabalho nas suas bases eleitorais?
PR: Sou um deputado que tem alcançado uma votação razoável, cerca de 42 mil votos nesta ultima eleição. Minha atuação se dá, em grande parte, entre a região do São Francisco, do Vale do Paramirim e, obviamente, aqui próximo a Salvador. Temos desenvolvido algumas articulações e acho que o trabalho que vem sendo feito pode vir a me reconduzir para a Assembléia Legislativa. Acho que essa perspectiva de vir a exercer mais um mandato existe.
AL: O presidente Marcelo Nilo aprovou a instalação da CPI do Metrô. No entanto, apesar de sua bancada ter liberado seus deputados para assinarem o requerimento, o PT ficou de fora. Por quê?
PR: Eu lamento. Inclusive, porque acho que adentramos numa situação não muito confortável, já que esse papel de fiscalização deveria ser exercido pela Câmara de Vereadores e de Deputados. Afinal, trata-se de um convênio feito entre o Governo Federal e Municipal. Até estranhei essa tentativa de se instalar a CPI. Espero que as pessoas estejam bem intencionadas. Não acredito que exista nenhuma má intenção daqueles que propuseram e daqueles que acreditam nessa CPI.
AL: O senhor também acredita que a CPI é uma “jogada de marketing” ?
PR: Pode ser. Pode ser tudo. Pode ser mais do que isso. Imagine agora se a Assembléia Legislativa instalar todo dia uma CPI para investigar um município. Porque, o que existe de irregularidade de convênio entre o Governo Federal e municípios da Bahia... As pessoas têm que entender que a Bahia não é só Salvador. Inauguramos o inédito. Nunca vi, mas, se tiver algum caso de Assembléia Legislativa que apurou possíveis irregularidades em convênios [entre Governo Federal e Municipal] quero que me avisem. Para mim [a CPI do Metrô de Salvador] é algo fora do nosso papel. Nota-se, inclusive, que possíveis envolvidos não têm demonstrado preocupação.
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